Asíndrome autoimune que, ao lado da microcefalia, espalha preocupação em relação ao zika vírus no país fez pelo menos uma vítima em Minas após o alerta do Ministério da Saúde sobre a mais nova ameaça propagada pelo Aedes aegypti. Um adolescente de 16 anos, morador de Pedra Bonita, na Zona da Mata, foi diagnosticado com a síndrome de Guillain-Barré, que, segundo autoridades sanitárias, pode ser deflagrada pelo zika – transmitido pelo mosquito assim como a dengue, a febre amarela e a chikungunya. O distúrbio afeta o sistema nervoso e ataca diretamente uma proteína que reveste os nervos, retardando a velocidade da condução de estímulos motores. A consequência é a paralisia muscular progressiva, que começa nas pernas, mas pode subir para o tronco, braços e pescoço, além de atingir músculos da face e da respiração.
Apesar da mobilização federal em relação à nova ameaça, a síndrome que afeta o sistema nervoso não tem notificação obrigatória, pois não há um surto, na avaliação do Ministério da Saúde. É diferente do que ocorre com os casos de microcefalia, malformação em bebês que também teve relação confirmada com o zika vírus. Nesse caso, foi registrado um surto no Nordeste do Brasil, o que levou à determinação de que os estados avisem o governo federal a cada novo diagnóstico. Em Minas, são 52 casos notificados de recém-nascidos nessa situação, em que a suspeita de relação com o zika está sendo investigada. Na semana passada eram 33 registros.
O quadro de síndrome de Guillain-Barré em Pedra Bonita foi diagnosticado na sexta-feira, quando um adolescente de 16 anos, morador da zona rural da cidade, deu entrada na Casa de Caridade de Carangola, com paralisia de movimentos nas pernas, braços e pescoço. “Ele informou que os sintomas tinham começado três dias antes de chegar ao hospital. Começaram nas pernas, rapidamente atingiram o quadril, membros superiores e pescoço. O diagnóstico do neurologista foi para Síndrome de Guillain-Barré, e nós conseguimos uma vaga no Centro de Terapia Intensiva (CTI) do Hospital Evangélico de Carangola”, afirmou o médico Sidiner Mesquita Vaz, coordenador do CTI da Casa de Caridade de Carangola
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Segundo o médico, imediatamente a Gerência Regional de Saúde de Manhumirim (Zona da Mata), que faz parte da estrutura da Secretaria de Estado da Saúde, foi comunicada, com o objetivo de fornecer, com a urgência necessária, a medicação de alto custo para o tratamento. O medicamento em questão é uma solução de imunoglobulina, um anticorpo injetável que visa à recuperação da proteína que reveste os nervos. O adolescente respondeu bem ao tratamento e ontem tomou a última dose, recuperando os movimentos que tinha perdido. “O caso deve ser investigado pelas autoridades de saúde, para determinar se existe alguma relação com o zika vírus. O histórico do rapaz não traz nenhuma informação que possa estabelecer essa relação inicialmente”, completa Sidiner Mesquita Vaz. Apesar de já ter apresentado melhoras significativas, o paciente segue internado em Carangola.
Para o professor da Faculdade de Medicina da UFMG Paulo Caramelli, coordenador do Serviço de Neurologia do Hospital das Clínicas da universidade, seria importante que se fixasse a necessidade de notificação compulsória às autoridades sanitárias de todos os casos da síndrome. “Por mais que exista a possibilidade de cura, sabemos que há casos de Guillain-Barré em que a evolução não é favorável. Em um primeiro momento, a notificação pode servir para mapear o tamanho do problema e mobilizar a mídia e a opinião pública da forma que aconteceu com a microcefalia”, afirma o médico.
Segundo a Secretaria de Estado de Saúde, para o mal de Guillain-Barré não há estatísticas disponíveis no mesmo formato da microcefalia, que desde 11 de novembro é monitorada, com base em portaria do Ministério da Saúde que obriga a notificação para os casos que acometem os bebês. Os dados da síndrome no estado para o ano de 2015 estão atualizados de janeiro a outubro, quando foram registrados 172 pacientes, contra 163 em todo o ano de 2014. A pasta diz que ainda não foi notificada oficialmente sobre o caso de Pedra Bonita, mas garante que, diante do quadro atual, é necessário investigar esse tipo de diagnóstico, justamente para saber se existe associação com o zika vírus.
O Ministério da Saúde informa que a síndrome é uma reação a diferentes agentes infecciosos, que podem ser vírus ou bactérias. No Brasil, a relação entre zika vírus e Guillain-Barré foi confirmada depois de investigações da Universidade Federal de Pernambuco, a partir da identificação do vírus em amostras de seis pacientes que estavam com sintomas neurológicos. Em quatro deles houve a confirmação de Guillain-Barré. Porém, o ministério não observou nenhum surto, e classifica a doença como muito rara. “O Sistema Único de Saúde (SUS) dispõe de tratamento para a síndrome de Guillain-Barré, entre procedimentos diagnósticos, clínicos, de reabilitação e medicamentos. Em 2014, foram registrados 65.884 procedimentos ambulatoriais e hospitalares no SUS (incluindo internações). Vale ressaltar que o número de procedimentos não corresponde ao número de pacientes atendidos, pois uma pessoa pode realizar diversos procedimentos”, afirma a pasta, em nota.
A Secretaria de Saúde de Minas informa que até o momento não há comprovação da circulação do zika vírus no estado. “No entanto, todas as medidas de vigilância e preventivas têm sido implementadas para detecção precoce, no caso de sua introdução”, afirma a pasta, em nota. Segundo a secretaria, se houver suspeita de associação com o zika, casos de Guillain-Barré devem ser informados à pasta pelas unidades de saúde onde ocorrer atendimento suspeito.