Setembro é o Mês Mundial da Doença de Alzheimer. A enfermidade, para a qual ainda não há cura, atinge hoje mais de 35 milhões de pessoas em todo o mundo, principalmente na terceira idade. No entanto, o número de pessoas abaixo dos 60 anos que desenvolve a doença de Alzheimer também é importante e não pode ser negligenciado, alertam especialistas. Muitos casos precoces são detectados a partir dos 30 anos.
Calcula-se que 8% dos casos de Alzheimer em todo o mundo são relativos a pessoas com menos de 60 anos. Na França, que contabiliza 900 mil pessoas com a enfermidade, cerca de 20 mil pacientes não são idosos.
Neste mês de setembro, as autoridades sanitárias francesas vêm alertado a população sobre a importância de detectar sinais precoces da doença. Segundo dados do governo francês, um a cada dois pacientes ignoram que sofrem de Alzheimer.
No Brasil, cerca de 1,2 milhão de brasileiros sofrem com a enfermidade, mas o país não têm dados específicos sobre a quantidade de pessoas que desenvolvem a doença antes de chegar à terceira idade. No entanto, o país também registra casos nos quais os sintomas são registrados por volta dos 30 anos de idade. O diagnóstico da doença nos primeiros sinais de sua manifestação pode ajudar a controlá-la.
Segundo o neurologista Leonardo Cruz Souza, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e doutor em Neurociências pela Universidade Paris 6, a incidência da enfermidade nas populações mais jovens não pode ser desconsiderada. “É um grupo menor de pacientes, mas que merece uma atenção particular devido à agressividade desta doença, que atinge as pessoas no auge de sua capacidade profissional”, diz.
Falta de informações sobre a enfermidade
Cruz Souza ressalta a falta de esclarecimento sobre a doença de Alzheimer. “Hoje, no Brasil, a população tem informações bastante genéricas sobre a doença. Há muito desconhecimento – o que gera estigma, exclusão e preconceito”, aponta. Segundo o neurologista, muitas pessoas acreditam estar desenvolvendo a enfermidade ao detectar qualquer dificuldade de memória.
Para o responsável do polo Missões Sociais, da associação France Alzheimer, Christophe Roy, o trabalho de prvenção é necessário para acabar com todos os tabus em torno da doença. “É preciso adotar um discurso mais simples e desdramatizar a comunicação em torno do Alzheimer”, preconiza.
Como identificar os sinais
Cruz Souza explica que a doença atinge dois grandes grupos: um em que a doença é tratada como esporádica, que acontece sem ter casos precedentes na família e outros grupos minoritários em que a doença passa de geração em geração, que dizem respeito a apenas 5% dos casos.
Para ambas as situações, os sinais são os mesmos, indica Christophe Trivalle, responsável pelo serviço de Cuidados e Readaptação ao Alzheimer do hospital Paul-Brousse, em Paris. “O esquecimento e a falta de memória sobre fatos recentes, como não lembrar de um compromisso, por exemplo, ou se perder em um caminho feito com frequência, além esquecer de hábitos recorrentes, como a receita do prato preferido ou não saber mais utilizar o microondas”, exemplifica.
Casos esses sinais se repitam com frequência, o especialista aconselha procurar um médico e fazer uma revisão geral da saúde. Caso a doença seja diagnosticada, o próximo passo, segundo Trivalle, é avaliar se o tamanho do hipocampo, considerado como o armazenador da memória cerebral, foi afetado. “A atrofia do hipocampo é uma marca da doença de Alzheimer”, enfatiza.
“Não há cura para a doença de Alzheimer”, ressalta o diretor do polo Missões Sociais, da associação France Alzheimer, Christophe Roy. Contudo, reitera, há tratamentos que permitem frear a enfermidade de maneira cada vez mais eficaz. “Há dois anos, não tínhamos mais esperanças, mas as renovamos com a descoberta de uma nova molécula que deve chegar ao mercado em até cinco anos”, diz.
Para Roy, a diminuição da incidência da enfermidade nos países desenvolvidos, especialmente na Europa Ocidental e nos Estados Unidos, é uma esperança para os pacientes em todo o mundo. “Podemos falar hoje em uma estabilização da doença, essencialmente devido à evolução da educação da população”.
Vida saudável pode ajudar a evitar a doença
“Aquilo que é bom para o coração é bom para o cérebro”, brinca Cruz Souza. De acordo com o neurologista, tudo o que favorecer a circulação cerebral, como atividades físicas regulares, ou uma alimentação saudável, além de evitar fumar ou ingerir bebidas alcoólicas, diminui os riscos de desenvolver a doença. Pesquisadores da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, descobriram, por exemplo, que caminhar cerca de 8 km por semana pode proteger, por até 10 anos, o cérebro de pessoas com Alzheimer.
Outros recentes estudos apontam que exercícios mentais também contribuem para reduzir o risco de demências em geral, como estudos superiores, palavras cruzadas, sudoku, leituras, além de o fato de não viver isolado.