O Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG irá sediar o primeiro Centro de produção de vetores virais para tecnologia de CRISPR-Cas9 do Brasil. Ainda pouco desenvolvido no país, o sistema CRISPR-Cas9 é uma ferramenta de edição de genomas, mais rápida e fácil de ser utilizada do que técnicas anteriores. Ele constitui uma abordagem promissora para o desenvolvimento da terapia genética, tanto em animais como em células humanas, podendo contribuir para o avanço do conhecimento científico na área de neurociências e resultar em novos tratamentos para doenças neurológicas.
A proposta de criação do Centro, feita por professores do ICB, da Faculdade de Medicina e de outras três universidades mineiras, foi aprovada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e vai receber um financiamento no valor de R$ 1.998.942,00.
De acordo com o biomédico Vinicius de Toledo Ribas, coordenador da proposta junto com o médico Paulo Caramelli, professor titular do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina, o objetivo é “criar uma infraestrutura para a produção de vetores de vírus adeno-associados para uso da tecnologia de CRISPR-Cas9 em terapia gênica em modelos animais de doenças neurológicas e explorar potenciais aplicações clínicas em pacientes”.
Vetores virais
Os vetores virais são vírus modificados, que não causam doenças, usados para transferir material genético (DNA) para células. A tecnologia de CRISPR-CAS9 pode ser entendida como uma ferramenta para cortar e “editar”, de forma simples e precisa, partes específicas do genoma.
“Nesse caso, os vetores virais serão utilizados para fazer funcionar a técnica de modificação do material genético da célula. Com a combinação de ambos será possível alterar o sistema nervoso na tentativa de curar ou tratar doenças neurológicas”, explica Vinicius Ribas, professor adjunto do Departamento de Morfologia do ICB UFMG.
Projetos
O pesquisador conta que, inicialmente, serão desenvolvidos cinco projetos com o uso de vetores virais e da tecnologia de CRISPR-Cas9 em modelos de doenças neurológicas e neuropsiquiátricas, Alzheimer, epilepsia, glaucoma e Hanseníase. Tudo será feito com a participação de alunos de iniciação científica, mestrado, doutorado e de pós-doutorandos e professores, somando mais de 30 cientistas envolvidos. Vinicius Ribas destaca que “estabelecer a pedra fundamental na implementação desta tecnologia colocará o estado de Minas Gerais na vanguarda, abrindo novas perspectivas para tratamentos de diversas doenças neurodegenerativas”.
A maior parte do valor será investida na compra de equipamentos, material de consumo e pagamento de bolsas de estudo. O projeto começará assim que os recursos forem pagos e estima-se que após 18 meses de iniciado o centro já esteja funcionando. A duração prevista para o projeto é de três anos e a meta é produzir e purificar vetores de vírus adeno-associado (AAV) para a comunidade científica de Minas Gerais e do Brasil.
“Não existe, no Brasil, um centro que produza esses vetores em alta qualidade. Quem precisa deles necessita importar de outros países. Conseguir produzi-los aqui vai facilitar o trabalho de pesquisadores brasileiros, inicialmente, dos envolvidos no projeto, o que irá favorecer o uso de técnicas de manipulação genética, podendo gerar novos conhecimentos e tratamentos”, comemora Vinicius Ribas.
Além da UFMG, estão diretamente envolvidas na criação do Centro as universidades federais de Ouro Preto, Juiz de Fora e Alfenas. O projeto inclui, ainda, duas instituições colaboradoras externas: a Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Universidade de Medicina de Göttingen, Alemanha.