Recentemente, o ator de Hollywood Bruce Willis foi diagnosticado com demência frontotemporal, uma doença que apresenta alterações no comportamento e quadros de esquecimento. Pelas similaridades, é comum que algumas pessoas confundam a doença com o Alzheimer, outro tipo de demência muito comum.

Segundo o neurologista Paulo Caramelli, especialista em cognição e professor da UFMG, a demência frontotemporal e o Alzheimer são causados pelo mesmo motivo: um atrofiamento de proteínas cerebrais que comprometem o funcionamento dos lobos frontais e temporais. Entretanto, as proteínas que passam por este atrofiamento são diferentes.

“A diferença da demência frontotemporal e da doença de Alzheimer tem relação com as proteínas envolvidas. O Alzheimer é a doença degenerativa cerebral mais comum, mas que é causada pela proteína chamada amiloide. Enquanto na demência frontotemporal são, fundamentalmente, duas proteínas responsáveis por 95% dos casos: uma proteína chamada tdp43 e uma outra proteína chamada tau”, explica.

Diferenças

Além da diferença em relação às proteínas causadoras, os fatores de risco das doenças também são diferentes. Ambas doenças tem pouca influência genética mas, enquanto a demência frontotemporal tem 10% dos casos com origem genética, esta causa está presente em menos de 1% dos casos de Alzheimer.

O quadro clínico também é diferente, segundo o neurologista Paulo Caramelli. O Alzheimer é caracterizado, especialmente, pela perda de memória, tendo influência no comportamento do paciente apenas mais tardiamente. Já a demência frontotemporal é o contrário: alterações no comportamento ocorrem logo no início do diagnóstico, e o esquecimento ocorre com menos frequência.

“Na doença de Alzheimer 85% dos casos apresentam como o primeiro sintoma uma perda de memória, principalmente para fatos recentes. Enquanto na demência frontotemporal a memória, pelo menos na maioria dos casos, é menos acometida nas fases iniciais e a doença se manifesta mais por alterações de comportamento ou por alterações de linguagem”, explica o médico.

O diagnóstico deve ser feito a partir de um atendimento médico especializado, que saberá diferenciar os tipos de demência.

Influência na vida

Ambas doenças influenciam muito na vida do paciente e da família. O neurologista Paulo Caramelli ressalta que a autonomia da pessoa é comprometida tanto com a demência frontotemporal quanto com a doença de Alzheimer, impactando a vida de todos ao redor.

“Os sintomas impactam na forma como a pessoa realiza as suas atividades do dia a dia, como atividades de banco e de compras, como cozinhar e se relacionar com familiares e amigos. Nas fases muito iniciais da demência e da doença de Alzheimer, numa conversa não muito longa, essa pessoa pode até aparentar como estando normal, mas se você conversa com familiares, você já percebe algum impacto nas atividades do dia a dia”.

A principal diferença nas duas doenças, segundo o médico, é que os impactos da demência frontotemporal acontecem mais rápida e intensamente do que a doença de Alzheimer, que se desenvolve gradativamente.

“A demência frontotemporal causa uma interferência na autonomia de forma ainda mais significativa nas fases iniciais, já podendo inclusive haver prejuízo de autocuidado, como higiene pessoal. Enquanto, na doença de Alzheimer, o prejuízo do autocuidado é mais tardio. Na demência frontotemporal os impactos costumam ser mais precoces, e isso acaba interferindo muito na qualidade de vida dessa pessoa e da família, fazendo com que o paciente precise de uma rede de suporte familiar”.

Nem o Alzheimer nem a demência frontotemporal tem cura ou tratamento específico. Normalmente, o médico vai indicar medicações e intervenções para controlar e amenizar os sintomas, retardando a evolução.

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